Tell your friends about this item:
O Meu Tio Helder Portuguese edition
M J Acunha
O Meu Tio Helder Portuguese edition
M J Acunha
O meu tio Helder, Eva - «eva» palavra em sânscrito que quer dizer «em verdade» - iniciei esta narrativa na adolescência quando minha alma era um estado de perdão e eu pasmava do mistério dos parentescos - nesta altura, todos os que me conheciam me consideravam anormal ou doente e escrever era para mim um acto de obediência à inércia, ao movimento natural de tudo e anterior à própria vida e como se tivesse chegado adormecida à própria vida, à medida que eu despertava as coisas se compunham pela escrita e eu ligava todos os elementos da vida, todos os dados da minha memória sonâmbula de tudo. A vida desligaria tudo, o meu ser seria rompido e as palavras, por consequência, permaneceriam moribundos na minha boca em sangue e já não irreal de vida e de morte e deste modo também a narrativa, sem conseguir irromper: fiapos como coágulos do pensamento. Por este facto, o da irrealização, é que hoje eu sou anormal e doente e, como quem já não se importa se aparece nu em público na fealdade em que o negligenciado é votado ou se vão injuriá-lo, lastimá-lo ou rir dele, apresento ridiculamente o momento mais frágil da criação: a sua génese (força e beleza) ligado como siamês ao momento mais desanimado, ligado à agonia: o fracasso da vida, o da morte na gestação. Teria também o Criador muitas vezes tentado a criação e terá sido também ele interrompido? Quem sabe a Terra - e digo isto por via da História - não seja deste facto a vítima e a testemunha? - Talvez Ele seja interrompido quando usado como meio de vingança ou suposta justiça: os homens não se cansam de dar lições aos homens, na maioria das vezes apenas se escandalizando com o que há-de de bom e genuíno no seu irmão para a este paralisarem - estratégia para a devoração que lhe preparam e assim o melhor no outro frustrarão para que, por entre uma usurpação, este se artificialize e se apresente o substituto, que não tem direito sequer ao parentesco de bastardo, natural e martirizado no processo oculto (a forma desleal) em que fabrica tal naturalidade, isto é, em que se apresenta algo que não é, alguém que não é e em laços não seus, em suma numa relação forjada de tudo e com tudo ? pois o usurpador não pode de todo ignorar aquele que usurpou, este aí está para reclamar o seu ? então o usurpador tem que se fazer do usurpado a vítima. O usurpado, no entanto, continua a existir e onde se habita ele agora em si? Sua casa esventrada serviu de útero a que ilegítimo Jonas? Quem o saberá se não o que saiu morto à luz do dia para o espaço do mundo que dele há-de rir? O mundo o verá como o gémeo segundo, aberração e aborto disputando a vida e o ser original - anedota do outro mundo contada neste mundo para saciação deste mundo e do outro. Mas nem tudo é negativo pois ao apresentar a minha literatura interrompida apresento também os ciclos da criação, não mostro a face da interrupção sem mostrar também a da criação - mas não como duas faces dum mesmo rosto, antes como a superfície plana de um espelho vomitando as profundidades consubstanciadas do que passivamente testemunha, para um quarto vazio, como num palco - os espectadores, as paredes que se cimentam do que olham e veem do que o espelho vê e absorve ? Pois apenas o silêncio é testemunha da verdade. MJ ACunha
Media | Books Paperback Book (Book with soft cover and glued back) |
Released | August 23, 2014 |
ISBN13 | 9781500108038 |
Publishers | CreateSpace Independent Publishing Platf |
Pages | 344 |
Dimensions | 216 × 279 × 18 mm · 802 g |
Language | Portuguese |